terça-feira, 4 de abril de 2017

Cigarros

Acendo um cigarro
Que é pra matar a saudade
Do teu cheiro que some
Do meu carro, do meu casaco
E da minha pele nua

Os Deuses da Vida

Os deuses da vida são  primos dos deuses do tempo
E onde o tempo foi parar?
Você viu ele aí em algum lugar?
Ele estava logo aqui
Quando você chegou, disse o ar
Será que o tempo enfim parou?
Não deixou amanhecer
Não deixou envelhecer?
Manteve tudo em seu lugar?
Não, eles já vão nos acordar
E eu não quero ir, eu quero ficar
Me deixa ficar!
Suplicou a menina aos deuses do vento, do tempo e do ar.

Divã

Se eu quisesse eu falava
Eu te beijava e te amava
E até te ensinava
Que para você faz falta
Sua alma na calma
Se eu quisesse eu ria, eu sentia
Se eu quisesse eu seria o seu amor
Sem dor ou rancor
Eu te tocaria e não te deixaria
Tão sozinha
Mas ele não quis seu doutor
Então me dê um remédio por favor
Que cure esse mal de amor

Devours

In all the looks and all the places
I see them fight I see them racist
Spineless animals crawling back to carnivals
Carnivorous bones on their cold heart stone
Devouring every shred of me
This town holds nothing but hurt and disagree
Western thoughts become our memories
Disguesed realities of our lunatic formalities

The Shells of our Dreams

On the shells of the deep blue sea
One day there will be you and me
Floatting on space of our eternity
Carelessly sinking in our dreams
Timeless weight on a fish tail we wait
Forever sinking in our frailty

Eu vivo porque ja quis morrer
Se eu tô, já não quero estar
Se eu digo que vou, é porque quero voltar
Se chego lá, o coração fica pra cá

A saudade que vem não pode ficar
Simbora daqui, eu te vejo pra lá
Meu coração falou mais
Do que o seu quis escutar

Se eu beijo tua boca é pra me calar
Abandono minhas roupas
Me trajo de louca
Para poder me salvar

Ao Despertar

Não gosto dessa geografia de pessoas
A ciência de seus corações 
A matemática de suas ações
O português áspero em suas vozes
A química estúpida nos copos de cerveja
A física esbanjada em seus corpos inertes
As histórias de suas mentiras
Ou suas falsas filosofias
Acordo repetindo este poema
sem estrutura papel nem pena
Desafiando a física todos os dias
Numa impenetrabilidade dolorida
Que criam laços que viram nós
Numa solidez só
E nessa solidão eu achei a solução 
Eu não sou daqui meu corpo não cabe
E já não me importo
Na solidão achei conforto 
Para esse meu coração torto

Sonhos Cansados

Nos olhares das virgens
A jura e o celibato
Que causam suas desordens
Que rebelam - se em atos
O que corre nos jovens
Que se esconde nos matos
Fumaças e nuvens
Grudados em seus sapatos
Que serão reféns
De seus sonhos baratos
O sonho dos homens
Jamais encontrado
São das origens
De seus pés cansados

Se O Nada Sentisse

O nada é singular, não toma lugar
Que o nada na contramão do tudo
Se iludiu por um segundo
Que tudo era seu inteiro
Mas nada é o que falta
O vazio é sempre o contrário de cheio

Outonos


No primeiro Outono foi que te conheci
No próximo ano já não andava-em dois
Delicado é o amor que assim partiu
Virou a esquina sem deixar depois

Pois seu coração é assim juvenil
Se enche de si e não lembra de nós
E a dor do meu peito alivio no rio
São águas passadas e tristezas a sois

A Saudade

A saudade é a falta
E se a falta não me nota,
A saudade logo vem a porta
E a porta é seu estar

Saudade que vem, saudade de quem?
Já senti o gosto do desgosto
E hoje minha saudade se estampa no rosto
A saudade não tem lógica
E novamente me bate na porta
Mas dessa vez eu não abro não!

Gentil Janela


Fale comigo, disse ela
Me faça companhia nesta noite fria
Eu bem que gostaria minha menina bela
Retrucou a gentil janela
E a menina então entendia
Que a voz que ouvia
Era somente a dela...